Você sabe por que a Salvação vem dos Judeus?
(Jo.4:6-26)
Durante seu icônico diálogo com Jesus, a mulher samaritana, ao perceber que não estava diante de uma pessoa comum, mas de um profeta (v.19) que poderia pôr fim a uma importante dúvida, quis saber quem estava certo, os samaritanos ou os judeus, no que concernia à Salvação. Nesse contexto, Jesus começa explicando que a Salvação vinha dos Judeus e não dos Samaritanos (v22).
Antes é necessário pontuar sucintamente quem eram os samaritanos e por que tanto a dúvida da mulher, como a resposta de Jesus fazem todo o sentido:
Os samaritanos são os descendentes da miscigenação promovida após o exílio do Reino do Norte. Em II Reis 17, vemos que o rei da Assíria, transportou a população das 10 tribos do reino do Norte para a Assíria e depois, trouxe gente da Babilônia e outros lugares para povoar Samaria. O povo que foi levado, nunca retornou e o povo que foi trazido trouxe consigo, sua religião pagã que se misturou à idolatria já praticada na região criando uma religião mista. Eles criam somente na Torá (o pentateuco), não seguiam a tradição, não guardavam todas as festas e acreditam que foi no monte Geresin e não no monte Moriá onde Abrão quase ofereceu Isaque e onde Deus entregou a Lei a Moisés. Dito isso, fica mais fácil entender por que Jesus afirma que os samaritanos adoram o que não conhecem…
Isto posto, podemos afirmar que a Salvação vem dos judeus (v.22) porquê:
1. O Salvador foi prometido ao povo de Israel.
Durante todo o antigo testamento nós encontramos as profecias a respeito da vinda do Messias e em Atos 13, Paulo faz uma explanação sobre esse assunto numa sinagoga em Antioquia da Psídia.
No verso 16, ele diz que a “promessa do Evangelho fora prometida a seus irmãos, filhos de Abraão”. Diz também no verso, 23 que “da descendência de Davi, conforme a promessa, trouxe Deus a Israel o Salvador que é Jesus”, e prossegue nos versos 32 e 33: “Nós vos anunciamos o Evangelho da promessa feita a nossos pais e como Deus a cumpriu plenamente (…) ressuscitando a Jesus”.
Paulo, apesar de estar falando a judeus em uma sinagoga, está fora dos domínios de Israel, atestando ser Jesus o Salvador que lhes havia sido prometido por meio das promessas feitas primeiro aos patriarcas e depois ao povo por meio dos profetas.
2. O Salvador era judeu
Como vimos em Atos 13, Jesus era descendente de Davi, portanto judeu.
Nós podemos encontrar sua árvore genealógica em Mateus e em Lucas.
O próprio Jesus afirmou no livro de apocalipse no capítulo 5, verso 5 que é o Leão da tribo de Judá.
Em suas últimas palavras, as últimas palavras de Jesus na Bíblia, em apocalipse 22:16, Ele diz: “Eu sou Jesus…. sou a raiz de Davi”, fazendo alusão a Isaías. Em outras palavras, Ele está dizendo: Eu sou o rebento que brotou do troco de Jessé. (Is11:1) – Jesus literalmente está dizendo EU SOU O MESSIAS JUDEU”.
3. A Bíblia é um livro escrito por judeus.
E por falar em Escrituras, podemos claramente observar que é um livro escrito essencialmente por judeus. De todos os autores, apenas Lucas é sabidamente, não judeu.
E as Escrituras Sagradas são precisamente os textos que trazem a revelação do plano de redenção estabelecido por Deus através do Messias.
Isso significa que tanto a revelação da promessa de Salvação, como também seu cumprimento em Cristo Jesus, foram basicamente entregues a judeus.
Romanos 9. 4-5 diz: “São Israelitas, de quem é a adoção, a glória, as alianças, a Lei, o culto e as promessas; de quem são os patriarcas; e de quem descende o Cristo segundo a carne, o qual é sobre todas as coisas, Deus bendito eternamente, Amém”.
4. Os primeiros mensageiros do evangelho eram judeus
O ministério de Jesus foi exercido essencialmente dento dos limites de Israel; os 70 comissionados eram judeus; o “ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura” foi dito aos apóstolos, que eram judeus; Atos 1:8 foi proferido a um grupo de judeus.
Um adendo importante: Em Atos 11:1, vemos que um grupo de crentes judeus, chamados de “os da circuncisão” ficaram sabendo que “gentios também haviam recebido a Palavra de Deus”, não entendiam como um não judeu poderia ser salvo, Pedro então narra a visão que tivera e o episódio acontecido na casa de Cornélio, concluindo nos versos 17 e 18: “que se Deus lhes deu o mesmo dom que eles haviam recebido quando creram no Senhor Jesus Cristo, quem eram eles para resistir a Deus?”. O texto diz que as coisas se apaziguaram e eles entenderam que “até aos gentios Deus deu o arrependimento para a vida”.
Pouco tempo depois, por causa da morte de Estevão, os que foram dispersos chegaram até Antioquia da Síria, onde foi fundada a primeira igreja gentílica.
Veja que antes desse relato, vemos Jesus, Felipe e Pedro compartilhando o evangelho a gentios, mas eram gentios que de alguma maneira já tinham contato com a fé no Deus de Israel: A mulher, Siro-fenícia e o oficial romano, foram atrás de Jesus e ao parecer tinham algum conhecimento das profecias a respeito do Messias. Os Samaritanos, apesar de não serem judeus, têm sua história diretamente ligada a Israel desde a divisão do reino e seu posterior cativeiro. O Oficial etíope estava lendo o livro de Isaías quando Felipe o encontrou. Cornélio estava observando o rito da oração das nove quando foi surpreendido por um anjo… Parece ser que estas pessoas de alguma forma, talvez já estarem acostumados com os costumes judaicos, e aparentemente tinham algum contato prévio com as profecias e com a Lei de Moisés. Um messias judeu não era algo alheio.
Em Antioquia da Síria, a Situação é completamente diferente: Antioquia era a terceira maior cidade Romana na época. Só perdia para Roma e Alexandria. Estamos lidando com pessoas que provavelmente sabiam muito pouco, ou mesmo nada, sobre Israel e a profecia Bíblica. E elas começam a se converter!!!
Novamente surge um embate: “Já sabemos que os gentios crentes podem crer no Messias judeu, mas, uma vez que creem, precisam viver como judeus”? É feito o primeiro concílio da igreja (Atos 15) e chega-se à conclusão de que um não judeu, ou seja: um gentio crente não precisa guardar a lei e viver como um judeu!
Resumindo: Os gentios não só poderiam receber a Salvação, como também não precisariam guardar a lei Mosaica. Ou seja: um gentio não precisa viver como um judeu para receber a Salvação oferecida pelo Messias.
Vencidos estes desafios, foi desde Antioquia, uma igreja gentílica, o lugar escolhido pelo Espírito Santo para que de lá saíssem os primeiros missionários ao mundo gentílico. O Grande detalhe é: Estes missionários eram dois judeus: Paulo e Barnabé. Judeus pregando aos gentios!!! Cumprindo o que foi dito em Atos 1:8 sobre “receber poder para testemunhar tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra”.
5. Os primeiros a receber a mensagem eram majoritariamente judeus.
Como acabamos de ver, o movimento de crescimento da Igreja se deu: primeiro com judeus que estavam em Jerusalém. A Bíblia relata que após a descida do Espírito Santo, Pedro e João começaram a pregar no templo e cada dia a igreja crescia.
Em Atos 3, durante um discurso no Templo, Pedro afirma a partir do verso 25 para os ali presentes: “vocês são filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu com seus pais, dizendo a Abraão: na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra e que tendo Deus ressuscitado a Jesus, seu servo, o enviou primeiro a vocês para vos abençoar, no sentido de que cada um se aparte de suas transgressões” – Note que a benção que foi dada a Israel foi o direto ao arrependimento dos seus pecados.
Podemos constatar que a primeira igreja foi organizada em Jerusalém e as igrejas que se formaram nos primeiros anos eram majoritariamente compostas por judeus. Antioquia veio depois e foi ratificada pela liderança da igreja de Jerusalém depois do relato de Paulo e Silas.
As cartas de Hebreus e Thiago foram escritas para crentes judeus.
Voltando a Atos 13, vemos Paulo pregando em uma sinagoga. Podemos observar que desde sua primeira viagem missionária, ir primeiro à sinagoga e somente depois a outras partes da cidade, se apresenta como uma estratégia.
Esse método nos deixa claro que apesar da convicção de Paulo de que o evangelho deveria chegar aos gentios, ele deveria ser apresentado primeiro aos judeus, como ele mesmo afirma em Romanos 1:16: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação daquele que crê, primeiro do judeu e também do grego”.
Há uma lógica implícita aqui: Se o messias foi prometido ao judeu, faz todo sentindo que a notícia chegue primeiro a ele. Imagine por um instante, Paulo pregando a um grego que o messias prometido pelo Deus de Israel havia vindo ao mundo e que sua morte e ressurreição trazia vida eterna para a todos os povos. O grego se interessa no assunto e pergunta como os judeus têm recebido essa notícia. Como Paulo poderia responder a essa pergunta se não pregasse primeiro aos judeus???
Mas há outro detalhe importante também: Pregar primeiro nas sinagogas significava pregar não somente aos judeus, mas também aos prosélitos, que Paulo aqui descreve como tementes a Deus. Estes eram gentios, conhecedores das Escrituras e, como os judeus, aguardavam a promessa do messias. Seria muito mais fácil pregar a um gentio nessas condições.
Até aqui nós podemos observar, pelo menos 5 razões pelas quais, Jesus disse à mulher samaritana que “a Salvação vem dos judeus”: O Salvador foi prometido a Israel, como alguém da linhagem de Davi, portanto o Salvador necessariamente seria judeu. É num livro judaico que encontramos todas as profecias para que possamos identificar o Messias prometido pois os judeus foram o povo a quem Deus confiou o registro dessa promessa e seu cumprimento. Os primeiros ouvintes dessa mensagem eram judeus e, por conseguinte, os primeiros mensageiros do evangelho também eram judeus.
Podemos concluir que a história da Salvação em todos os seus desdobramentos se dá desde e a partir de Israel Obviamente o fato de o Messias ser um judeu oferecendo salvação a todo aquele que cresse nele, já seria uma resposta satisfatória. E, de fato, quando Jesus afirmou que a Salvação vinha dos judeus, a samaritana imediatamente lembrou do Cristo, o Messias. Poderia até haver dúvidas quanto ao local apropriado para o culto, mas não quanto ao fato de o messias que haveria de vir ser um judeu.
A judaicidade de Jesus que inicialmente foi uma barreira ao final se mostrou motivo de grande alegria superando todas as expectativas daquela mulher. Jesus lhe mostra que a Salvação vinda dos judeus estava ali diante dela.
Aquela mulher que possivelmente estava ali naquele horário sozinha para não se expor por conta de sua história de vida, parece esquecer esse detalhe ao sair dali anunciando aos moradores da cidade que havia encontrado o Messias!!! O encontro com Jesus transformou aquela mulher.
Depois de dois dias ela pode ouvir, da boca de muitos daqueles que provavelmente antes a recriminavam, que a princípio creram pelo seu testemunho, mas agora criam porque eles mesmos haviam estado com Jesus e sabiam que “Ele verdadeiramente era o Salvador do mundo” (v.42).
Aqui no Brasil, tão distante no tempo e no espaço, nós adoramos ao Deus de Israel. Assim, como a samaritana e tantos outros, nós fomos abençoados porque o evangelho chegou até nós por meio desse povo, criado por Deus, para que dele viesse o Messias. E a melhor maneira de retribuir essa benção a este povo é apresentar-lhes o seu messias judeu.
Por Suzana Rodrigues
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