A ESPERANÇA É O CORAÇÃO DA VIDA

 A ESPERANÇA É O CORAÇÃO DA VIDA

“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança!” – Lamentações 3:21

 

Como o profeta Jeremias, nós vivemos na ambiguidade da existência.

Há dias que somos um rio de alegrias; há outros em que somos um mar de tristeza.

Há dias em que somos cidadãos da esperança. Há dias em que somos arautos da desesperança.

Há dias em que somos campeões da fé. Há dias em que somos soldados da derrota.

Há dias em que amanhecemos com um canto de louvor nos lábios. Há dias em que somos a boca da murmuração.

Há dias de luz. Há dias de trevas.

Essa ambiguidade faz da vida uma dialética entre o sim e o não. O que é e o que não é. O que quero e o que não quero. O que posso e o que não posso. Como temos vivido essa ambiguidade! Talvez a maioria de nós esteja vivendo de modo negativo, marcado pelas perdas: perda da fé, perda da doçura de ser, perda da paciência de esperar, da alegria de crer, de confiar, de ouvir, de ver, de sonhar. Somos, assim, um poço de desesperança.

Precisamos fazer como Jeremias reagiu no meio do caos, e dizermos:

Chega… chega de pessimismo, chega de amargura, chega de desesperança!

Também precisamos trazer à memória aquilo que nos pode dar esperança.

Mas, o que ou quem nos podem devolver a esperança? Para Jeremias só há um que nos pode dar ou devolver a esperança: YHWH, o SENHOR, o Deus Eterno.

Mas Ele não é um deus qualquer. É o Deus cheio de misericórdia. “As misericórdias do SENHOR são a razão de não sermos consumidos. Porque as suas misericórdias não têm fim, elas se renovam a cada manhã”.

Sim, as misericórdias do SENHOR não envelhecem, não congelam, não apodrecem, são sempre novas. Portanto, qu quero trazer à memoria o que me pode dar real esperança.

Mas o nosso Deus não é apenas misericórdia. Ele é fiel e grande é a Sua fidelidade; se formos infiéis, Ele permanece fiel porque não pode negar-se a si mesmo. Deus não muda. Deus não volta atrás. Por mais que eu esteja deprimido, por mais que eu claudique, por mais que eu O negue, por mais que eu esteja no limiar da descrença, por mais que eu tenha feito uma curva na verdade que devia ser a minha vida, porém há um compromisso de Deus em me segurar. Posso olhar em volta e ver que tudo está caótico: a família, o trabalho, os negócios, eu mesmo, mas no meio disso tudo não perco a esperança porque o meu Deus não negocia a minha vida com ninguém. Ele casou-se comigo. É fiel, fez uma aliança, um pacto incondicional e eterno!

Preciso trazer à memória aquilo que me pode devolver a esperança. E a palavra de Deus não me deixa esquecer: Deus é fiel. Por isso não perco a esperança. Por isso eu aguardo a salvação do Senhor sem alarde, sem barulho, sem lamúria, sem murmuração, sem amaldiçoar o dia em que nasci, sem me queixar da herança que recebi. Eu aguardo a salvação do Senhor em silêncio. Porque Ele é fiel.

Outra razão para eu não perder a esperança é que o meu Deus é um Deus cheio de compaixão. Compaixão é mais que misericórdia. Até mesmo a sua ira aponta para a compaixão. Daí o conselho do teólogo reformado P. T. Forsyth: “Sejam gratos a Deus porque Ele se importa tanto com vocês que chega a ficar irado!”.

Deus não deixa ninguém triste para sempre. Deus não nos quer cabisbaixos, arrasados, encurvados, caídos. Ele não está de olhos fechados, de ouvidos tapados, de mãos encolhidas. Ele está próximo. Ele é Emanuel. É Deus conosco. Ele estende a sua mão. É o Deus da compaixão, da proximidade, do livramento, da libertação. Por isso ainda há esperança. […] Vamos trazer à memória, vamos recordar, vamos relembrar com gratidão: só e tudo aquilo que nos dê esperança, só e tudo aquilo que nos devolva a esperança, só e tudo aquilo que nos alimente a esperança. O nosso Deus é fiel. O nosso Deus é misericordioso. O nosso Deus é cheio de compaixão.

Lembremos: A memória é o coração da esperança, e a esperança é o coração da vida.

Por isso ainda há esperança!

(texto adaptado livremente do livro “Memória e Esperança”, do Pr. Abival Pires da Silveira)

 


Pr. José Nogueira

Pastor Sênior da Igreja Batista Fundamentalista Cristo é Vida

Fortaleza – CE

A Eternidade no coração do Homem

A Eternidade no coração do Homem

 

 

Sempre há muitas perguntas sobre como será a eternidade. E se é difícil descrever de modo pleno e satisfatório nosso mundo hoje, como definir a eternidade? Como caracterizá-la? Em que consistirá esse tempo sem fim com Deus?

Não há como um salvo não questionar a eternidade. Aliás, não há como o ser humano não pensar na eternidade. Ela se apresenta diante de nós e não há como fugir dela, pois é para ela que nossa vida ruma em uma correnteza que não se pode deter.

Também [Deus] pôs a eternidade no coração dos homens; contudo, não podem descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim. (Eclesiastes 3.11)

A mente dos salvos quando sonda o futuro quer ir além do que é possível. Pergunta por coisas para as quais de fato não há resposta. E, no entanto, muitas vezes, deixa de atentar para as respostas dadas por Deus. Falar da eternidade é falar do infinito temporal e por isso não é fácil.

No entanto, lembre-se que qualquer escatologia bíblica jamais poderá ir além do que está escrito (1 Co 4.6). Onde a Bíblia se cala nós também devemos nos calar. E falar com confiança e certeza naquilo que ela revela. Não há qualquer problema em responder diante das questões da eternidade: “Não tenho a menor ideia”, pois ideias não são matéria prima da teologia e sim a revelação.

As Escrituras não nos deixam vislumbrar muita coisa. A verdade, porém, é que nossa mente limitada seria incapaz da absorver uma realidade muito além da nossa. A razão não pode tudo. Sua última ação, segundo Pascal, consiste em constatar seus limites.¹

Quando João descreve o que viu no Apocalipse, principalmente nos capítulos 4 e 5, ele usou frequentemente a expressão “semelhante” e “como”. Não havia como dizer exatamente o que viu, pois em nosso mundo não existe similar. Tudo será muito além do que as palavras que possuímos poderiam expressar, tudo será muito além do que a nossa realidade consegue manifestar. O estado eterno é uma condição infinitamente além do que qualquer condição que tenhamos conhecido. Muito além do que qualquer ficção poderia criar.

Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado. (…) Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido. (1 Coríntios 13.10, 12)

Ainda assim temos que pensar a eternidade. Ainda assim, ansiamos por esse tempo além do tempo, essa vida além da vida. E temos que fazer isso conforme a Palavra. E nela, podemos vislumbrar com quem vislumbra o horizonte. Não sabemos tudo sobre a eternidade, sabemos na verdade bem pouco. Isso não significa que não sabemos nada. Sabemos coisas bem preciosas sobre ela.

Depois, virá o fim, quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo império e toda potestade e força. Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés. Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte. E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, também o mesmo Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos. (1 Coríntios 15.24, 25, 26, 28)

O fim que virá, será o fim da presente era. Na verdade, será o fim que precederá um novo começo, o começo da eternidade, dessa condição de existência indizível. E por este texto, pelo menos algumas coisas sabemos sobre a eternidade.

  1. Será o fim da matéria corrompida

Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então, cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. (1 Coríntios 15.54, 55)

Vivemos no mundo pós-Queda e por isso não sabemos o que é viver no mundo original criado por Deus, o qual era “muito bom” (Gênesis 1.31). Toda a matéria ao nosso redor foi corrompida e até o universo, isto é, o cosmo, “envelhece como um vestido” (Salmo 102.26). Toda a natureza geme, pois por causa do pecado ficou entregue à efemeridade (Romanos 8.19-21). Essa condição, no entanto, terá fim para dar lugar a um novo começo.

  1. Será o fim dos opositores de Deus

quando houver aniquilado todo império e toda potestade e força (1 Coríntios 15.24)

Tanto na terra, seus governantes, quanto no céu, os principados e potestades, se opõe a Deus. Vivemos em um mundo que se opõe à vontade do seu Criador e Senhor e embora ele ria de tal situação, ela existe e é dolorosa para nós que nos submetemos a Ele (Salmo 2.1-3). Na eternidade porém, nada se oporá a Ele e o alinhamento à vontade divina que um dia existiu no universo voltará a ser uma realidade. Sua vontade será feita plenamente, tanto na terra, quanto nos céus, tanto na esfera física quanto na esfera celestial. Principados e potestades, no céu e na terra, serão definitivamente vencidas.

Naquele dia o Senhor castigará, no alto, as potestades nos céus, e embaixo, os reis da terra (Isaías 24.21)

  1. O fim da morte

Então a morte e o além [o hades], foram lançados no lago de fogo (Apocalipse 20.14)

A morte é tão certa quanto é inaceitável. E o choro dos velórios é o testemunho humano disso. Não importa quanto tempo o morto tenha vivido entre nós e qual tenha sido seu sofrimento neste mundo. Ninguém aceita o fim. Fomos criados para eternidade e somente quando a morte não mais reinar, então será a eternidade, esse último inimigo a ser vencido.

Não sabemos o que é um mundo sem morte, um mundo onde ele não faz sentir diariamente o seu poder. E ainda que não saibamos, será nesse mundo que iremos viver. E podemos dizer como John Donne, poeta e pregador inglês do século XVII:

Morte, não te orgulhes, ainda que alguns a tenham chamado

Poderosa e terrível, pois tu não o és…

…Um pequeno sono apenas e acordamos eternamente,

e não haverá mais morte, pois tu, ó morte, morrerás.

E então, a grande característica da eternidade terá lugar: Deus será tudo em todos. Não como um falso panteísmo, onde um deus é tudo e é todos. Mas em uma plena soberania bíblica onde nada no universo estará fora da harmonia com Ele. Não haverá então espaço algum para o mal, pois o mal é a ausência do bem, é a ausência do Sumo Bem. E o Sumo Bem estará eterna e totalmente presente, preenchendo todas as coisas.

 


Por Eguinaldo Hélio de Souza
Pastor, jornalista, professor de teologia e história no Vale da Bênção. Palestrante nas áreas de apologética, seitas,
escatologia, Israel e vida matrimonial.

 

1 A.D. SERTILLANGE. A vida intelectual. São Paulo: É realizações, 2010 p. 18.